Júri simulado
A morte do escritor Euclides da Cunha, alvejado pelo cadete Dilermando de Assis no dia 15 de agosto de 1909, foi manchete dos principais jornais do País e motivo de debate até no Parlamento. O julgamento de Dilermando, que mantinha um romance com Ana Solon da Cunha, esposa de Euclides, de quem era amigo, dividiu o tribunal, mas o réu foi absolvido. A sentença não foi aceita facilmente pela sociedade, e o tema gerava polêmica em cada esquina. Até hoje, os detalhes das investigações nunca haviam sido revelados. Somente agora, quase 100 anos depois do crime, os autos do processo foram divulgados no livro Crônica de uma tragédia inesquecível (Editoras Albatroz, Loqüi e Terceiro Nome, 232 págs. R$ 36), que revela também bastidores do julgamento.
Os documentos foram organizados por Walnice Nogueira Galvão, professora de letras da Universidade de São Paulo (USP) e autora de 11 livros sobre Euclides da Cunha. "São relatos importantes de um fato histórico que devem vir ao conhecimento do público", diz ela. A obra traz depoimentos de testemunhas. Elas refutam a tese de legítima defesa que absolveu Dilermando e relatos da viúva. Segundo Ana, o amante exigia dela mais de 500 mil réis por mês e jurava vingança, caso fosse abandonado.
A morte de Euclides da Cunha tem todos os elementos de um folhetim: traição, drama, suspense. O escritor teve uma crise nervosa na véspera da tragédia, quando descobriu que sua mulher não havia dormido em casa e tinha levado um dos cinco filhos com ela. Euclides chamou o primogênito, Solon, de 15 anos, e disse: "Onde está a sua mãe, aquela adúltera?" Desesperado, Solon foi à casa de Dilermando e implorou a Ana que voltasse, mas não adiantou. Ela estava decidida a se separar. "Sua mãe daqui não sai", bradou o cadete.
As suspeitas de traição de Euclides começaram com a desconfiança sobre a paternidade do seu filho mais novo, Luiz, de dois anos – mais tarde foi confirmado que o pai do menino era Dilermando. "Ele dizia que o filho era o retrato do 'Sargentão' (Dilermando)", contou Angélica Ratto, sua comadre, em depoimento. Naquele 15 de agosto, Euclides carregou um revólver calibre 22 e foi ao encontro do rival. Segundo Dinorah Cândido de Assis, irmã de Dilermando, ele invadiu a casa, puxou a arma do bolso do paletó e, arrombando a porta do quarto do cadete com um chute, disse: "Vim aqui para matar ou morrer." Ao tentar impedi-lo, Dinorah foi alvejada por Euclides. Em seguida, o escritor atirou em Dilermando, que revidou com uma seqüência de quatro tiros.
Os depoimentos sobre o crime são contraditórios. O cadete disse à polícia que atirou em Euclides para se defender. Mas duas vizinhas de Dilermando presenciaram o crime e afirmam que o escritor foi morto no jardim, quando estava ferido e já não representava ameaça ao acusado. Ana, ao ver o marido ensangüentado na soleira da porta, pediu a Dilermando que o levasse para dentro. Euclides foi colocado na cama do amante de sua esposa e pediu um copo de água e um cálice de vinho do Porto antes de dar o último suspiro. No leito de morte, o cadete teria perguntado a Euclides: "Que precipitação foi essa, doutor? Eu não queria lhe matar. O senhor me perdoa?". Euclides sussurrou: "Odeio-te. Perdôo-te."
Para vingar a morte do pai, Euclides da Cunha Filho tentou assassinar Dilermando sete anos depois, mas também foi morto pelo cadete. Após perder o marido e um filho, Ana ainda sofreria outro golpe. Em 1921, Dilermando a abandonou e foi morar com outra mulher, mais jovem. Apesar de ter sido inocentado nos dois episódios, o cadete foi perseguido durante toda a vida. "Ele era considerado pela opinião pública o facínora que matou um herói brasileiro. A comoção nacional influenciou até mesmo os delegados e promotores envolvidos no caso", avalia o advogado Domício Pacheco, consultor jurídico do livro.
Carta de Euclides para Dilermando "Apesar de aborrecido por um número de contrariedades, julgo que não o tratei mal. Na sua idade, nunca se é um homem baixo. Não creio que houvesse lhe feito tal injustiça. A minha casa continua aberta sempre aos que são dignos e bons. Não poderá fechar-se para você. Quando souber a razão do meu aborrecimento, avaliará a injustiça que fez a si próprio e a mim. Até sábado. Estude, seja sempre o mesmo rapaz de nobres sentimentos"
Fonte: Meia palavra
A morte do escritor Euclides da Cunha, alvejado pelo cadete Dilermando de Assis no dia 15 de agosto de 1909, foi manchete dos principais jornais do País e motivo de debate até no Parlamento. O julgamento de Dilermando, que mantinha um romance com Ana Solon da Cunha, esposa de Euclides, de quem era amigo, dividiu o tribunal, mas o réu foi absolvido. A sentença não foi aceita facilmente pela sociedade, e o tema gerava polêmica em cada esquina. Até hoje, os detalhes das investigações nunca haviam sido revelados. Somente agora, quase 100 anos depois do crime, os autos do processo foram divulgados no livro Crônica de uma tragédia inesquecível (Editoras Albatroz, Loqüi e Terceiro Nome, 232 págs. R$ 36), que revela também bastidores do julgamento.
Os documentos foram organizados por Walnice Nogueira Galvão, professora de letras da Universidade de São Paulo (USP) e autora de 11 livros sobre Euclides da Cunha. "São relatos importantes de um fato histórico que devem vir ao conhecimento do público", diz ela. A obra traz depoimentos de testemunhas. Elas refutam a tese de legítima defesa que absolveu Dilermando e relatos da viúva. Segundo Ana, o amante exigia dela mais de 500 mil réis por mês e jurava vingança, caso fosse abandonado.
A morte de Euclides da Cunha tem todos os elementos de um folhetim: traição, drama, suspense. O escritor teve uma crise nervosa na véspera da tragédia, quando descobriu que sua mulher não havia dormido em casa e tinha levado um dos cinco filhos com ela. Euclides chamou o primogênito, Solon, de 15 anos, e disse: "Onde está a sua mãe, aquela adúltera?" Desesperado, Solon foi à casa de Dilermando e implorou a Ana que voltasse, mas não adiantou. Ela estava decidida a se separar. "Sua mãe daqui não sai", bradou o cadete.
As suspeitas de traição de Euclides começaram com a desconfiança sobre a paternidade do seu filho mais novo, Luiz, de dois anos – mais tarde foi confirmado que o pai do menino era Dilermando. "Ele dizia que o filho era o retrato do 'Sargentão' (Dilermando)", contou Angélica Ratto, sua comadre, em depoimento. Naquele 15 de agosto, Euclides carregou um revólver calibre 22 e foi ao encontro do rival. Segundo Dinorah Cândido de Assis, irmã de Dilermando, ele invadiu a casa, puxou a arma do bolso do paletó e, arrombando a porta do quarto do cadete com um chute, disse: "Vim aqui para matar ou morrer." Ao tentar impedi-lo, Dinorah foi alvejada por Euclides. Em seguida, o escritor atirou em Dilermando, que revidou com uma seqüência de quatro tiros.
Os depoimentos sobre o crime são contraditórios. O cadete disse à polícia que atirou em Euclides para se defender. Mas duas vizinhas de Dilermando presenciaram o crime e afirmam que o escritor foi morto no jardim, quando estava ferido e já não representava ameaça ao acusado. Ana, ao ver o marido ensangüentado na soleira da porta, pediu a Dilermando que o levasse para dentro. Euclides foi colocado na cama do amante de sua esposa e pediu um copo de água e um cálice de vinho do Porto antes de dar o último suspiro. No leito de morte, o cadete teria perguntado a Euclides: "Que precipitação foi essa, doutor? Eu não queria lhe matar. O senhor me perdoa?". Euclides sussurrou: "Odeio-te. Perdôo-te."
Para vingar a morte do pai, Euclides da Cunha Filho tentou assassinar Dilermando sete anos depois, mas também foi morto pelo cadete. Após perder o marido e um filho, Ana ainda sofreria outro golpe. Em 1921, Dilermando a abandonou e foi morar com outra mulher, mais jovem. Apesar de ter sido inocentado nos dois episódios, o cadete foi perseguido durante toda a vida. "Ele era considerado pela opinião pública o facínora que matou um herói brasileiro. A comoção nacional influenciou até mesmo os delegados e promotores envolvidos no caso", avalia o advogado Domício Pacheco, consultor jurídico do livro.
Carta de Euclides para Dilermando "Apesar de aborrecido por um número de contrariedades, julgo que não o tratei mal. Na sua idade, nunca se é um homem baixo. Não creio que houvesse lhe feito tal injustiça. A minha casa continua aberta sempre aos que são dignos e bons. Não poderá fechar-se para você. Quando souber a razão do meu aborrecimento, avaliará a injustiça que fez a si próprio e a mim. Até sábado. Estude, seja sempre o mesmo rapaz de nobres sentimentos"
Fonte: Meia palavra
Aêee... Já divulgando nosso trabalho!!!
ResponderExcluirEssa é a idéia. Nesse Júri teremos oportunidades de despertar vocações, de conhecimentos jurídicos, práticos, literários...Enfim, será uma bela atividade. Mãos a obra.
ResponderExcluirEste comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirANNA uma heroina,amou tragicamente, Dilermando um aparente súdito, amou fatidicamente Euclydes um aparente algoz ,amou sinistramente , findando numa dramatica comovente nefasta catastrofica e fatal historia de paixões e amor-ANNA, heroína, amou intensamente, profundamente,corajosamente com todos os extremos que esse amor pediu e impôs,fazendo dessa tragedia e seus infortúnios um verdadeiro e impar brilhante da literatura e pérola da arte universal
ResponderExcluirAlém dos filhos, A vítima inocente foi Dinorá de Assis,nós o povo ficamos sem a epopeia e maturidade do escritor Euclydes da Cunha...os 3 personagens desse fatidico,dilacerante e poderoso amor foram vitimas e algozes do proprio infortunio ,pregado pela circunstância, pelas MOIRAS e pelos Deuses .Tudo , colaborou ,compactuou ,contribuiu e corroborou para que esse desenlace se apoderasse do DESTINO ,foi FATAL
ResponderExcluirANNA, heroína, amou intensamente, profundamente,corajosamente com todos os extremos que esse amor pediu e impôs,fazendo dessa tragedia e seus infortúnios um verdadeiro e impar brilhante da literatura e pérola da arte universal ANNA uma heroina,amou tragicamente, Dilermando um aparente súdito, amou fatidicamente Euclydes um aparente algoz ,amou sinistramente , findando numa dramatica comovente nefasta catastrofica e trágica historia de paixões e amor
Personagens desse fatídico,dilacerante e poderoso amor foram vitimas e algozes do próprio infortúnio pregado pela circunstância pelas MOIRAS e Deuses Tudo colaborou compactuou contribuiu corroborou para que esse desenlace se apoderasse do REAL foi FATAL as artimanhas tecidas manipuladas pelo implacável do DESTINO onde todos foram vitimas e o AMOR trágico pungente torturante profético foi VENCEDOR se tornando SEMIDEUS DIVINIZANDO-SE
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