Tempos difíceis
Sob o título "Sou Juíza", o artigo a seguir é de autoria de Angela Schmidt Lourenço Rodrigues, Juíza de Direito em Jacareí (SP). Foi publicado originalmente no site "Judex, Quo Vadis?" (*).
Sou Juíza.
Mas não me atrevo a me identificar em público.
Tempos difíceis... Melhor não fazê-lo.
Na rua, no supermercado, no cinema e até mesmo entre os que não são muito conhecidos, sou apenas a Angela.
Digo aos meus filhos que se calem.
- Não digam que são filhos de juíza! Melhor falar que mamãe é assistente social, advogada ou qualquer coisa que o valha. Não revelem a profissão da mamãe em hipótese alguma!
Minha funcional está no fundo do armário.
Meus cartões de visitas ficam no Fórum. Em compromisso oficial levo um ou dois, apenas para o momento. Nem sonho em carregá-los na bolsa.
Meus hollerites estão muito bem escondidos, até pra evitar o desgosto de ver os descontos de mais de 38% dos meus vencimentos.
A empregada doméstica, muito bem instruída, não deve revelar que trabalha na residência de uma magistrada.
Ser juiz há tempos tem sido muito perigoso. Arriscado.
Mas o pior é que agora é vergonha também.
Não para quem se orgulha do trabalho que faz, como eu.
Mas para quem não nos conhece e nem imagina quanto pesa o nosso fardo...
Aos olhos da população, graças às TVs e aos jornais, somos vagabundos muito bem pagos pra deixar os processos mofando nos armários.
Somos venais, corruptos, vagabundos, os reis da carteirada, bandidos de toga!!
Precisamos de fiscalização incessante! Tal qual crianças irresponsáveis, sem a vigília dos bedéis de um Conselho superior somos incapazes de assumir nossas responsabilidades e ?dar conta do serviço?!
Ai de nós se alguma coisa der errado!!! No trânsito, no trabalho, nas ruas. Rezemos pra sair ilesos! A culpa, afinal, é sempre nossa!
Recebi a notícia do ingresso no concurso através do meu próprio pai. Dr. Angilberto Francisco Lourenço Rodrigues, advogado desde 1955, tempos dourados das Arcadas, falecido no ano passado.
Quanto orgulho ele sentiu de mim. Chamou-me de excelência!
Nunca vou esquecer aquele dia. Contava aos amigos que tinha todos os filhos formados em direito, uma promotora de justiça e uma JUÍZA. Falava com ênfase, com o orgulho que os advogados daqueles tempos tinham por ter um magistrado na família.
Pois é, meu pai, meu querido. Esses tempos já não existem mais.
Chego a pensar, apesar da tristeza que me abate, que foi bom o senhor ter partido antes de ter que esconder dos amigos que sua filha é juíza.
Graças a Deus o senhor não tomou conhecimento da vergonha e desonra que se considera o exercício da magistratura nos dias de hoje...
Mas pode ficar tranquilo, pai. Eu tenho certeza absoluta do caminho que estou trilhando. Da causa que abracei.
E consciência tranquila.
Do dever cumprido
Sob o título "Sou Juíza", o artigo a seguir é de autoria de Angela Schmidt Lourenço Rodrigues, Juíza de Direito em Jacareí (SP). Foi publicado originalmente no site "Judex, Quo Vadis?" (*).
Sou Juíza.
Mas não me atrevo a me identificar em público.
Tempos difíceis... Melhor não fazê-lo.
Na rua, no supermercado, no cinema e até mesmo entre os que não são muito conhecidos, sou apenas a Angela.
Digo aos meus filhos que se calem.
- Não digam que são filhos de juíza! Melhor falar que mamãe é assistente social, advogada ou qualquer coisa que o valha. Não revelem a profissão da mamãe em hipótese alguma!
Minha funcional está no fundo do armário.
Meus cartões de visitas ficam no Fórum. Em compromisso oficial levo um ou dois, apenas para o momento. Nem sonho em carregá-los na bolsa.
Meus hollerites estão muito bem escondidos, até pra evitar o desgosto de ver os descontos de mais de 38% dos meus vencimentos.
A empregada doméstica, muito bem instruída, não deve revelar que trabalha na residência de uma magistrada.
Ser juiz há tempos tem sido muito perigoso. Arriscado.
Mas o pior é que agora é vergonha também.
Não para quem se orgulha do trabalho que faz, como eu.
Mas para quem não nos conhece e nem imagina quanto pesa o nosso fardo...
Aos olhos da população, graças às TVs e aos jornais, somos vagabundos muito bem pagos pra deixar os processos mofando nos armários.
Somos venais, corruptos, vagabundos, os reis da carteirada, bandidos de toga!!
Precisamos de fiscalização incessante! Tal qual crianças irresponsáveis, sem a vigília dos bedéis de um Conselho superior somos incapazes de assumir nossas responsabilidades e ?dar conta do serviço?!
Ai de nós se alguma coisa der errado!!! No trânsito, no trabalho, nas ruas. Rezemos pra sair ilesos! A culpa, afinal, é sempre nossa!
Recebi a notícia do ingresso no concurso através do meu próprio pai. Dr. Angilberto Francisco Lourenço Rodrigues, advogado desde 1955, tempos dourados das Arcadas, falecido no ano passado.
Quanto orgulho ele sentiu de mim. Chamou-me de excelência!
Nunca vou esquecer aquele dia. Contava aos amigos que tinha todos os filhos formados em direito, uma promotora de justiça e uma JUÍZA. Falava com ênfase, com o orgulho que os advogados daqueles tempos tinham por ter um magistrado na família.
Pois é, meu pai, meu querido. Esses tempos já não existem mais.
Chego a pensar, apesar da tristeza que me abate, que foi bom o senhor ter partido antes de ter que esconder dos amigos que sua filha é juíza.
Graças a Deus o senhor não tomou conhecimento da vergonha e desonra que se considera o exercício da magistratura nos dias de hoje...
Mas pode ficar tranquilo, pai. Eu tenho certeza absoluta do caminho que estou trilhando. Da causa que abracei.
E consciência tranquila.
Do dever cumprido
Fonte: Blog do Fred
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